terça-feira, 28 de setembro de 2010

Constatações da última semana

Esta semana passei por alguns eventos interessantes, e por que não dizer deveras estressantes?


Na 2ª-feira, quando ia para o hospital, enfrentei um enorme congestionamento na Linha Amarela, muito maior que o normal, se é que alguém pode considerar engarrafamento normal (na minha concepção, engarrafamentos são conseqüência da falta de organização e previsão dos nossos governantes). Depois descobri que o motivo foi um enfrentamento de policiais e traficantes que foram parados por uma patrulha e houve troca de tiros, com um policial gravemente ferido e os bandidos desapareceram sem ser presos. Mas durante o engarrafamento, em dado momento eu ouvi alguns gritos estranhos, apesar do som em alto volume no carro. Olhei pelo espelho e vi, com certa dificuldade, várias pessoas armadas andando por entre os carros e vindo na minha direção!

Comecei a buzinar e piscar os faróis pra ver se os caras da frente se tocavam. Por sorte um deles puxou um pouco o carro, apenas o suficiente para que eu manobrasse e conseguisse subir duas rodas na calçada e fugir da confusão! Foi um festival de atrocidades no trânsito, como subir na calçada, forçar passagem, avançar sinal e quase atropelar um desses “transeuntes” armados. Claro que sei que me apavorei à toa, porque o governador falou na campanha que a UPP resolveu tudo! Então deveriam ser apenas pedestres que estavam armados para sua auto-defesa e gritavam com os motoristas porque os motoristas tinham que pagar pela emissão de carbono na atmosfera com a ousadia de manter seus carros ligados naquele engarrafamento infernal.

Após “escapulir” daquele ponto, parei algumas centenas de metros mais à frente. Passou um carro da P2 e outro veículo descaracterizado abrindo passagem, e logo depois vi três motos vindo pela contra-mão, mas eram motos da PM, com os policiais de submetralhadora na mão, indo na direção do pessoal do arrastão. Confesso que temi pela minha vida naquele momento. Mas cheguei ileso ao hospital após cerca de 1 hora pra atravessar um trecho de cerca de 1 km da Linha Amarela.

Na 4ª-feira fui ao Centro e, numa iniciativa meio “verde”, deixei o carro no estacionamento e fui de Metrô, partindo da estação de Del Castilho. Logo após sair da estação Maria da Graça, estava olhando a paisagem urbana e vi cerca de 40 a 50 pessoas na linha do trem, ao lado da linha do metrô. Vários adolescente que cheiravam cola, cocaína, fumavam crack abertamente, à luz do dia entre traficantes que negociavam suas drogas sem serem incomodados por ninguém! Fiquei enojado e revoltado... Isso é algo que me incomoda demais.

Passei os últimos dias pensando nisso tudo e fui absorvendo as notícias do nosso dia-a-dia, como os tiroteios constantes na Zona Oeste, arrastões em diversas áreas antes tranqüilas e acabei por entender a realidade da política de segurança aqui no Rio de Janeiro, a qual vou tentar descrever.

UPP’s se instalam nos morros considerados perigosos e “pacificam” a “comunidade”. Não sem antes haver um comunicado aos bandidos que isso acontecerá, pois é importante para o governo mostrar que não houve violência na entrada da PM na comunidade. Então os bandidos sabem que precisam sair em 48 horas e transferem suas operações para outras localidades. Isso me passa a impressão que há uma espécie de acordo financeiro, um bolsa-tráfico pra garantir a passagem e a mudança dos meliantes para outros bairros. A maioria está migrando para a Baixada e a Zona Oeste, além de estarem agindo impunemente na Zona Norte também.

Tirei uma conclusão disso tudo: vou virar favelado! Bem! Não isso! Favelado não é um termo politicamente correto. Morador da comunidade... AI sim!!!

Se eu morasse na favela (digo, comunidade), não precisaria me preocupar com pagamento de luz, gás, telefone, TV a cabo, condomínio e prestação do apartamento, pois tudo isso eles têm de graça. Também teria teleférico (que chique) na porta de casa. E não teria violência, pois a UPP resolveu tudo e os bandidos se mudaram pra longe. Além do mais, lá se ganha “bolsa” pra tudo, passe de ônibus, metrô, barcas e trem. Como os assaltos agora são no asfalto, é o povo da classe média que tem que pagar esse pedágio aos bandidos. Afinal a classe média é quem paga mais impostos e literalmente sustenta o governo e as benesses do povão da comunidade e nada recebe em troca.

Quero me mudar pra uma comunidade e poder ser um cidadão completo, porque fiz 6 anos de faculdade, 5 de especialização, tenho 20 anos de prática na minha profissão e trabalho no serviço público para um governador e um prefeito que me pagam (juntos) menos do que o salário de qualquer gari, qualquer motorista de ônibus, qualquer outro trabalhador de nível básico... Tenho que pagar mais imposto que qualquer um deles e tenho muito menos oportunidades de emprego, pois quem vai querer contratar um profissional qualificado como eu sabendo que terá que pagar mais caro por mim do que por um recém-formado desesperado por um trocadinho no bolso?

Como faço pra sustentar meus 3 filhos e minha esposa? Nem a oportunidade de complementar minha renda me aliando aos traficantes ou pior ainda, aos políticos, porque meu pai me ensinou que a única coisa que um homem leva para o túmulo é seu corpo e as únicas coisas que ele deixará de verdade quando se for serão seu nome, seu caráter e seus exemplos.

Então, nas minhas reflexões, avaliei o cenário político atual e percebi algumas coisas interessantes que vou listar agora para reflexão dos amigos que me lêem por aqui.

1 – O povão que gosta do bem-bom, churrasquinho na laje com bola-da-pá e cerveja kaiser, além de uma pinga das brabas, e etc., quer mais é bolsa-família, bolsa-presídio, bolsa-tatuagem, bolsa-camisinha, bolsa-sei-lá-o-quê-mais, garantia de atendimento na UPA (mesmo que sem médico), garantia de segurança da UPP e etc, é o povão que vota em Lindberg, Cabral, Dilma e toda a corja de imorais e o séquito de ladrões que os envolve.

2- Alguns que tem alguma inteligência com, pelo menos, alguns neurônios da memória funcionantes, curtem churrasco com picanha, fraldinha, filé com queijo, cerveja Skol, Itaipava ou Antartica sub-zero, um cineminha de vez em quando, caipirinha de vodka e querem a possibilidade de alguma mudança pra melhor nas suas vidas, sejam essas mudanças financeiras, econômicas, educacionais ou mesmo de oportunidades, votam César Maia e Serra.

3 – Os que tem capacidade cerebral mais ativa, como artistas, intelectuais, escritores, estudantes sérios etc., curtem teatro, cinema, shows e um bom livro, até curtem um churrasco desde que com os amigos numa roda de violão, um wiskinho de leve, mas que tem o mesmo peso de um suco de abacaxi com hortelã e sabem que as mudanças na nossa vida não dependem do governo e sim das nossas próprias iniciativas, votam Gabeira e Marina...

2 comentários:

  1. Boa leitura André! Fica fácil ler, quando existem comparações que nos ajudam a entender melhor teu ponto de vista! Comparações do cotidiano, com aquilo que estamos acostumados a viver, presenciar! Muito bom mesmo! Eu não sabia da existência deste blog, e vou me manter por dentro, pra acompanhar um pouco de ti!
    Grande abraço!

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  2. Pos é, TH6! Tem outro também, onde falo mais sobre música! É o De Papo Pro Ar... Eu acho bem legal também! Ambos estão meio desatualizados porque estou montando um site, mas preciso me corrigir desse mal...

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